sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O fardo dos quase trinta.

Sempre fui uma garota cheia de dúvidas que demonstrava uma confiança excessiva em sí mesmo. Vivia de aparência. As aparências ainda são importantes na minha vida. Confesso. Estava nas melhores baladas, conhecia os promoters da cidade, não pagava entrada, ganhava bebidas, caronas, cantadas e uma autoestima que durava até o efeito da bebida passar. Tudo era lindo, até a prova surpresa do dia seguinte. O excesso de amigos no orkut demonstrava minha popularidade adquirida a custa de muitos sorrisos falsos e presença em lançamentos de estabelecimentos da zona sul. Mas aos dezoito anos tudo tem cheiro de Angel e ressaca com gosto de espumante. Você muda a cor do cabelo três vezes ao dia. Não existe arrependimento. É só mudar de colégio, faculdade e bares. Você quer abraçar o mundo. E realmente abraça. Você tem tempo.
Hoje você não entende como homens de quase 30 se dizem apaixonados por garotas com hálito de espumante e que entram de graça em baladas. Tudo bem, existe até um certo despeito por seus 26 anos não comportarem tempo suficiente para testes e exigências excessivas, mas, mais de duas décadas e meia de experiência te deu conhecimento o bastante para afirmar que não dá. Não, não dá. É ressaca e trance demais para competir com um bom vinho tinto ao som de blues.
Tá certo. Eu não posso dormir com maquiagem, eu não tenho mais tempo para apostar todas as cartas do baralho em vários jogos, eu não realizei nem meus projetos na lista de ações de dois anos atrás. Cheers!
Atualmente não sei se acredito em amores ou desamores. Acredito em acertos e erros e nas consequências que a sequência deles podem causar. Gosto mais da ideia de ser romântica do que realmente sou. E não me venha com essa história de positivismo que, na boa, já deu.
O tempo mano velho está correndo de mim tão rápido que não está dando tempo de fazer nada. As pessoas que conhecí, hoje desconheço. Se elas sofreram a mesma transformação da menina que acreditava em cavalo branco e na continuidade dos contos de fadas, elas são inexistentes nesse momento. Hoje, o tempo realizou uma mudança tão drástica em mim que a ideia de ser popular me causa náuseas. Talvez porque mesmo querendo o tempo já não me permita. O clichê do recalque não deveria entrar aqui.
O pior de todas as coisas do mundo é que, bem lá no fundo, você não mudou. Você apenas acrescentou favoritos a sua lista e substituiu ítens já desatualizados. Você continua a mesma menina de 18 anos no corpo de uma mulher de 26, com um certo requinte a mais, mas com os mesmos sonhos. Apesar dos anos, dos quase trinta e de um tempo que a cada dia torna se mais seu inimigo.