segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pobre bichinho de trombas.


Se você é uma pessoa que sofre, vamos dizer assim ,uma suposta (ou imposta) discriminação sobre memória, falta de percepção ou alguns (ou vários) ápices de esquecimento. Bem vindo ao clube.


Sim, somos chamados grotescamente de lerdos, sonsos, desatentos. E mais carinhosamente usando esses mesmos termos no diminutivo _ lerdinho, sonsinho e por aí vai. O que dá na mesma, porém, soa mais delicado.

O que acontece é que temos memória seletiva e é fato. Só lembramos o que achamos conveniente lembrar.


O que, em princípio pode ser encarado como uma grave deficiência do sistema nervoso, se torna uma dádiva. Não se encontra definição em dicionários ou qualquer livro da gênese humana , mas me arrisco a dizer que sem esses providenciais esquecimentos o ser humano não conseguiria chegar até aqui.


A verdade é que vivemos a reclamar ( e como!), quando deixamos a chave do carro na loja do shopping, esquecemos de colocar a manteiga na lista do supermercado ou quando deixamos o dinheiro do cigarro na outra bolsa. Agora, já imaginou de lembrassemos de absolutamente tudo? O que seria de nós sem as valiosas lacunas propiciadas pelos lapços de memória?


Essa nossa vidinha de cidade grande em sociedade só é viavél porque esquecemos de quase tudo. Quase o tempo todo.

Para que se lembrar daquela apresentação de dança no auditório do colegio na sexta serie, daquele tombo em plena Afonso Pena uma hora da tarde, daquele fora bem no dia dos namorados?

Afinal a quem seriam indispensáveis quando aquela bola no meio de centenas de pessoas escolheu bem a sua cara para bater no jogo de volei ou aquela franjinha que sua mãe cortava bem no meio da testa quando você tinha sete anos?


Essa vaguidão da memória aparece como uma proteção. Fazem com que determinados acontecimentos tenham contornos um pouco menos dolorosos que são criados a partir do nosso instinto de preservação para que sigamos em frente com o que sobrou da auto estima.


Viva. Temos memória seletiva.

Agora, imagina o elefante. Não esquece de nada, nem um minutinho sequer. Lembra de tudo, o tempo todo. Coitado.


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